domingo, 27 de março de 2011

NORMOSE

NORMOSE
(a doença de ser normal)

"Todo mundo quer se encaixar num padrão.
Só que o padrão propagado não é exatamente fácil de alcançar. O sujeito "normal" é magro, alegre, belo, sociável, e bem-sucedido. Bebe socialmente, está de bem com a vida, não pode parecer de forma alguma que está passando por algum problema. Quem não se "normaliza", quem não se encaixa nesses padrões, acaba adoecendo. A angústia de não ser o que os outros esperam de nós gera bulimias, depressões, síndromes do pânico e outras manifestações de não enquadramento.
A pergunta a ser feita é: quem espera o quê de nós? Quem são esses ditadores de comportamento que "exercem" tanto poder sobre nossas vidas?
Nenhum João, Zé ou Ana bate à sua porta exigindo que você seja assim ou assado. Quem nos exige é uma coletividade abstrata que ganha "presença" através de modelos de comportamento amplamente divulgados.
A normose não é brincadeira.
Ela estimula a inveja, a auto-depreciação e a ânsia de querer ser o que não se precisa ser. Você precisa de quantos pares de sapato? Comparecer a quantas festas por mês? Pesar quantos quilos até o verão chegar?

Então, como aliviar os sintomas desta doença?
Um pouco de auto-estima basta.
Pense nas pessoas que você mais admira: não são as que seguem todas as regras bovinamente, e sim, aquelas que desenvolveram personalidade própria e arcaram com os riscos de viver uma vida a seu modo.
Criaram o seu "normal" e jogaram fora a fórmula, não patentearam, não passaram adiante. O normal de cada um tem que ser original.
Não adianta querer tomar para si as ilusões e desejos dos outros. É fraude. E uma vida fraudulenta faz sofrer demais.
Eu simpatizo cada vez mais com aqueles que lutam para remover obstáculos mentais e emocionais e tentam viver de forma mais íntegra, simples e sincera. Para mim são os verdadeiros normais, porque não conseguem colocar máscaras ou simular situações.
Se parecem sofrer, é porque estão sofrendo. E se estão sorrindo, é porque a alma lhes é iluminada.

Por isso divulgue o alerta: a normose está doutrinando erradamente muitos homens e mulheres que poderiam, se quisessem, ser bem mais autênticos e felizes."
(Michel Schimidt Psicoterapeuta)

domingo, 13 de março de 2011

Entrevista com Roberto Shinyashiki

A revista Isto É publicou uma excelente entrevista com Roberto Shinyashiki, médico psiquiatra, com Pós-Graduação em administração de  empresas pela USP, consultor  organizacional e conferencista de  renome nacional e internacional.
Uma das perguntas desta entrevista, e a respectiva resposta, você verá a seguir. Medite sobre ela.
ISTO É – Muitas pessoas têm buscado sonhos  que não são seus, isso é verdade?
Shinyashiki
- A sociedade quer definir o  que é certo. São quatro loucuras da sociedade:
A primeira, é  instituir que todos têm de ter sucesso, como se ele não tivesse significados  individuais.
A segunda loucura é:
Você tem de estar feliz todos os  dias.
A terceira é:
Você tem que comprar tudo o que puder. O resultado é esse consumismo absurdo.
Por fim, a quarta loucura:
Você tem de fazer as coisas do jeito certo. Jeito certo não existe. Não há um caminho único para se fazer as coisas.
As metas são interessantes  para o sucesso, mas não para a felicidade.
Felicidade não é uma meta, mas  um estado de espírito.
Tem gente que  diz que não será feliz enquanto não  casar, enquanto outros se dizem infelizes justamente por causa do  casamento.
Você pode ser feliz tomando sorvete, ficando em casa
com a família  ou amigos verdadeiros, levando os filhos para brincar ou indo a praia ou ao cinema.
Quando era recém-formado em São Paulo, trabalhei em um hospital de pacientes terminais.
Todos os dias morriam nove ou dez pacientes. Eu sempre procurei conversar com eles na hora da morte.
A maior parte pega o médico  pela camisa e diz:
"Doutor, não me deixe morrer. Eu me sacrifiquei a vida inteira, agora eu quero aproveitá-la e                ser feliz".
Eu sentia uma                             dor enorme  por não                 poder fazer nada. Ali eu        aprendi que a felicidade                 é feita de coisas pequenas. 
Ninguém na hora da morte diz se arrepender por não ter aplicado o dinheiro em imóveis ou ações, ou por não ter comprado isto ou aquilo, mas sim de ter esperado muito tempo ou perdido várias oportunidades para aproveitar a  vida.
Todos, na hora da morte....                               ”dizem se arrepender de ter esperado muito tempo ou perdido várias oportunidades para aproveitar a vida.”...

Pense.... medite....

Alguma coisa parece semelhante em tua vida?

domingo, 6 de março de 2011

As Chamas do Tempo Modesto ::

As Chamas do Tempo Modesto ::

Categoria: São Paulo da cultura, gastronomia, lazer e oportunidades
Autor(a): Rubens Ramon Romero | história publicada em 22/12/2008
As “Chamas” do Tempo “Modesto” passaram! O tempo passa, o tempo passou, novas vidas surgem e os anos se vão, se foram, mas as lembranças ficam e não mudam o seu tom. Elas permanecem pelos tempos e, sempre que recordadas, provocam emoções, e muitas vezes retrata nas vidas presentes, permanecendo na memória, a história de cada um, provocando sensações, pelos tempos sem fim, pela eternidade. Lembrar e reviver os tempos.

O tempo é eterno ao ser lembrado, ele não é apenas o momento, nem um único sentimento, ele esta inserido no pensamento, espalhando reflexões por todas as gerações, e uma vez inscrito estará eternizado, desde seu nascimento.

Tudo parece uma rima, como no poema de Drummond, mas não é uma solução, porque o tempo passa, o tempo passou. Somamos tudo o que vivemos, subtraímos tudo o que gostaríamos de ter vivido, fazemos um balanço, e no movimento de ida e volta nos vem a lembrança, e então vivenciamos duas vezes, quando vivemos e quando nos recordamos...

Não podemos pedir ao tempo que nos devolva os anos que passaram, nos traga de volta o que perdemos, nos restitua a juventude, o negro dos cabelos, o viço da pele limpa, o vigor da mocidade e a forma de sentir e cantar o tempo. Ele passou. O tempo passou, como Chico Buarque expressa na antiga canção: “Eu bem que avisei a ela, o tempo passou na janela só Carolina não viu”.

E não foi só a Carolina que não viu, uma grande parte das pessoas também não viu. Nem ouviu o tempo passar, na voz do locutor Fiore Gigliotte: "O tempo passa...”, muito menos ouviu o Pedro Luiz, o Edson Leite, o Milton Peruzzi, Luis Noriega, Zé Italiano, Wilson Brasil, Geraldo José de Almeida, Mauro Pinheiro, Oduvaldo Cozzi (irmão do juventino Cozzi), Waldir Amaral, Mário Morais, dentre outros.

Foi o tempo dos grandes locutores, dos grandes comentaristas, dos comunicadores do futebol. Estarei errado? “Absolutamente Certo!”, muitos ouviram na voz de Aurélio Campos, leram nos jornais, Folha da Manhã, O Correio Paulistano, nas revistas Tico-Tico, a Cigarra, Noite Ilustrada, na Realidade e na mais famosa de todas, a de maior valor real, a revista “O Cruzeiro”, criticada por muitos de seus inimigos, com o humor do “Amigo da Onça”, na principal página. Na Revista do Rádio leram, ouviram e devem ter lembrado da voz grave de Walter Foster, e a do homem do rádio e da Mooca, Hélio Ribeiro, junto com a moça do Karmann-Ghia vermelho, todos os dias às doze horas, na rádio, com a sua comunicação no programa “Poder da Mensagem”.

E você, ouvinte–leitor, chegou a se comunicar na língua do “P”. Minhas tias Carmem e Marta dialogavam de nesse idioma “de trás pra frente”. Ouviu a Prk30, com Lauro Borges e Castro Barbosa, O Edifício Balança Mas Não Cai, A Cadeira de Barbeiro, A Hora do Pato. O Broto Não Tem Saudades, somente os mais velhos. O Crime Não Compensa, pois havia o que contrastasse, a Hora da Ave Maria, com Pedro Geraldo Costa, na PRG-9 Rádio Nacional, todos os dias às 18h00.

Sentimos saudades dos programas de televisão: Gincana Kibon, O Céu É o Limite, a série do Moquense, o Vigilante Rodoviário, e a entrega do troféu Roquete Pinto, Esta Noite Se Improvisa, a “Família Trapo”. Toda a família ao redor do aparelho de TV, até o cachorro, Rim Tim Tim, assistia e era assistido nos aparelhos Invictus, Semp, Zenith, Empyre, Windsor ou Colorado RQ. Com “Reserva de Qualidade” adquiriam o aparelho receptor em suaves prestações, nas Lojas Sears Roebuck, Assumpção, Isnard, Mesbla, Mappin, ou Casas Pirani (A Gigante do Brás), pertinho da Mooca, que patrocinava os primeiros programas de televisão da rede Tupi, as tais Grandes Atrações Pirani.

Alguns não paravam em casa, preferiam dançar. Boleros ao som de Eydie Gormé e Trio Los Panchos, Gregório Barrios, Bievenido Granda, o bigode que canta, e Lucho Gatica, acompanhados pelo conjunto “Pick-up e seus Negrinhos”, nos discos das marcas Continental, Copacabana, Chantecler, Odeon, RCA Victor. Nesses bailinhos dançava-se de rosto colado, com o odor do laquê dos cabelos das garotas entrando pelas narinas dos rapazes. Ray Charles era o favorito, com I Can`t Stop Loving You (não posso deixar de amar você). Os famosos bailes do “mela cueca”, com algumas cuecas de pano de saco de farinha, cedidos pelas padarias em troca da fidelidade dos clientes na compra do pão.

Todos iam aos bailes quando convidados; aos de formatura, nos salões do Aeroporto, Casa de Portugal, Palácio Mauá e Circulo Militar. Orquestras mais famosas: Silvio Mazuca, Osmar Milani, Erlon Chaves, Henrique Simonetti, El Pocho, Roberto Ferri. As seleções com os ritmos mais lentos, para se apertarem: fox, sambas canções, boleros. Depois as músicas mais aceleradas: mambos, cha-chá-chás, rocks e até os sambas mais ligeiros para se dançar o puladinho.

Os bailarinos, aqueles que dançavam figurado, iam com suas calças boca-de-sino, nos salões Lilás, Som de Cristal, Badaró e Clube Esso, (os dois na Rua 24 de Maio), Garitão, e no Tijolo Quente (no Brás, perto da Mooca), Avenida Rangel Pestana, quase esquina com Rua Professor Batista.

Os trajes eram os ternos comprados nas Lojas Garbo, Ducal, Casa José Silva e na A Exposição. Os mais elegantes e exigentes costurava-os nos alfaiates, ternos risca de giz e coletes, com tecidos adquiridos na Rua Monteiro (Avenida Rangel Pestana, do lado da Igreja São José do Brás).

O prendedor na gravata, abotoaduras na camisa Volta ao Mundo, suspensório, distintivo no bolso e lencinho na lapela eram os principais acessórios. Os cintos e as carteiras Lazko. Uns com relógio de bolso, no bolso, outros de pulso, no pulso: Mirvane, Movado, Eska ou Mido. ”Se fosse a Praça da Sé comprar um relógio Mido, sairia coMido” era o chiste da época.

Meias Lupo e lenço Presidente. No dedo anular anel feito com caroço de Jatobá!

Nesses bailes da época, a Valsa do Imperador era a música que imperava na dança dos formandos. Outros ritmos tocados? Baião, swing, fox trote, rumba, além dos tradicionais choros! Faleceu algum parente? Tarja preta abaixo dos ombros, ou fita na lapela em sinal de luto.

Na chuva, galochas e capa de shantung. Sapatos? De cromo alemão ou verniz. Aos mais pobres, “Alpargatas Roda”. Roda e avisa, um minuto para os comerciais, era o grito do Velho Guerreiro, que nos trazia o humor do Chacrinha nos nossos lares.

Antes dos bailes? Banho! Aos sábados, de tina, bacia ou chuveiro, com água gelada. Esfregava-se com bucha. Lavava-se com sabonetes Layfboy, Eucalol, Vale Quanto Pesa. Nas axilas, Leite de Colônia ou Leite de Rosas, emprestado da irmã, que usava calças Levi’s, blusa de banlon, saia plissada e brincava com bambolê. Após o banho, talco Ross, nos cabelos pente flamengo, depois Quina Petróleo Sandar, Glostora, Gumex, Óleo de Lavanda Boubon e óleo Dirce. Água Velva usava-se após a barba.

Os rapazes, com receio de “taboas” (recusa a pedido para dançar) convidavam as damas com gestos de cabeça distanciados. Os mais tímidos encorajavam-se com Gim, Fogo Paulista, Amargo Gambarotta, Kimel, Creme de Ovos, Hi-Fi, e a predileta, a mais digerida, a soberana, o Cubra Libre. Com sabor acentuado de hortelã, o preferido Pipermantt. Para refrescar o hálito: Jintam, Balas Kids, Drops Dulcora, ou o pequeníssimo “Sem Sem”.

Nos olhos, Colírio Moura Brasil ou Lavolho. Café antes de fumar? Caboclo, Seleto, Paraventi, ou Jardim. Após o café, cigarros Aspásia, Luiz XV, Continental, Fulgor, Everest, Pulmann, Castelões, Elmo e Negritos. Acendia cigarros com lente no sol? Talvez? Não lembra? Faz tanto tempo. Cigarilhas Talviz, e cigarrinho de talo de chuchu, fumava? E cigarro de folha de jornal? Usou piteira? Cheirava? Somente rapé e sentia tontura e enjôo.

Para enjôo e prisão de ventre: Magnésia de Phillips, Enteroviofórmio, Lacto Purga, Salamargo. Dor de dente, Gaicol. Dor de ouvidos, Aurissedina. Tosse, Fimatosan. O Biotônico Fontoura era para ficar mais forte. Operava as amídalas e depois tomava sorvete gelado. Curava-se a bronquite com Rum Creosotardo eternizado no reclame do bonde, na poesia:

“Veja ilustre passageiro o belo tipo faceiro
que o senhor tem ao seu lado.
E, no entanto, acredite,
Quase morreu de bronquite,
Salvou-o o Rum Creosotado”.

Havia outros anúncios, a figura de um homem tentando arrancar a tira fina de pano com as duas mãos e berrando: - Larga-me! Deixa-me gritar. Xarope São João. Havia também o do careca correndo atrás do macaquinho que lhe roubou o vidro da loção capilar: - Vem cá Simão! Traga a minha loção! Além daquele, institucional, dois olhos, fixados nos passageiros, e a mensagem:
— Assim como me vês, são visto todos os anúncios nesse veículo: Companhia de Anúncios em Bondes.

Tomavam-se outros remédios: Cebefosfan, Licor de Cacau Xavier, Pílulas de Vida do Dr. Ross, Cibalena, Emulsão Scott e Cafiaspirina.
Retornou do baile cansado, extenuado, tomou Vinho Reconstituinte Silva Araújo, além de descansar na Cama Patente, num confortável Colchão Probel. Levantou com sede? Água de moringa ou dos Filtros Salus.

Desceu e subiu no Tobogã? Desceu a serra, domingo foi ao litoral com o Expresso Zefir, no Pic Nic da Praia Grande com o ônibus da Breda. Viajou? Com a Panair, Real Transportes, Cruzeiro do Sul, e no “Darty Herald da Sadia”.

No meio da semana assistiam-se novelas: O Direito de Nascer, Redenção, Estúpido Cupido e Irmãos Coragem. Nos cinemas, filmes em 3ª. Dimensão. No Cine Metro, na Avenida São João, no Ipiranga, Santa Helena, Cine Mundi, Marabá, Art Palácio, Paissandu, Metro, Comodoro, Metrópole, Marrocos, todos no centro de São Paulo. O tempo passado, ficando mais velho, quase adulto, freqüenta-se o Cine Rivoli, já com ar condicionado, pianista antes da sessão e aromatizante no ar. No Brás, pertinho da Mooca o Cine Universo, com teto retrátil. Abria-se em noites claras e sentia-se o espaço celeste, cheio de luzes e estrelas. O Piratininga, o maior do Brasil, perto de 2000 lugares, além do Cine Gloria, na Rua do Gasômetro, ante-sala, bomboniere e poltronas estofadas, acompanhados de pipoca americana (caramelada, redonda e prensada) e chocolates Boleto (um casal de preto em posição de dança, numa embalagem vermelha). A cortina desse cinema era toda de cartazes de propaganda dos estabelecimentos da região e só se abria após o som do gongo.

No Cine Ouro, os homossexuais assediavam os espectadores sentados nas poltronas da primeira fila. Neste cine, Guerino Morais era o caçador de andróginos, vistoriava os banheiros, agachado, de revolver na cinta, ao perceber os movimentos das calças em “vai e vem”.

Na Mooca havia bons cinemas: Cine Aliança - localizado na Rua Visconde de Inhomirim, 756 -, na Rua Terezina, o Cine Bertioga. O Cine Imperial localizava-se na Rua da Mooca, 3430. Também situado na Rua da Mooca, no antigo número 380, estava o Cine Internacional – aproximadamente na esquina da Rua Marina Crespi. O Cine Moderno – localizado no antigo nº. 407 da Rua da Mooca, correspondente ao 2241 atual.

Outro cinema que ficava na Rua da Mooca, o ex-Cine Icaraí, depois Ouro Verde. Cine Patriarca, na Rua do Oratório, 830. Cine Roma, com duas entradas: Rua da Mooca/Alcântara Machado. Cine Safira, localizado na Rua do Hipódromo, entre as ruas João Caetano e Itajaí. Um dos mais antigos, inaugurado em 1912, o Cine São João, entre as ruas Visconde de Laguna e Iolanda.

O que mais me recordo é o Cine Santo Antonio – mais um na Rua da Mooca, no antigo número 99/101, correspondente ao número 547 atual. Assistia todos os domingos às chamadas matinês: dois filmes, desenho animado e fita em série, tudo numa só tarde. Guardo na minha retina as senhoras almoçando no intervalo das sessões, e nas narinas o odor ácido, mas agradável da murinhana (berinjela) à parmegiana, da alcachofra (na safra), e da porpeta com molho. Assisti a grandes filmes: Paixão de Cristo, Marcelino Pão e Vinho, La Violetera, Sangue e Areia, Ben-Hur, Tempos Modernos, Mil Léguas Submarinas, Volta ao Mundo em 80 Dias, com Mario Moreno, o “Cantinflas”.

Lembram do lanterninha?

Meus heróis continuam espalhando luzes nas minhas lembranças: Rock Lane, O Zorro, Tom Mix, Búfalo Bill, O Fantasma, Durango Kid, Roy Rogers. Eram os tempos de criança, da ingenuidade, da singeleza da infância. Jogar bolinha de gude, rodar pião, empinar pipa, brincar de mana mula, palha ou chumbo? Mãe da rua, o oculto troca-troca, e bater bola na rua com a molecada: jogar futebol.

De gorrinho? De meia? Meu amigo Zé Valente não usava, não havia número pra ele. Talvez por isso o apelido “Zé Cabeça”. E o goleiro de seu time, usava joelheira? A bola era de capotão, ensebava as chancas? Era alf direito, alf esquerdo ou center alf? Lembra do Pacaembu, da concha acústica, da estatua do David. Ouvia os jogos, no radinho Spicka.

Na Mooca havia o Parque Xangai. Lembram da boneca gorda, de uns três metros de altura, com uma bolsinha pendurada no braço, que dava gargalhadas, na entrada do parque? Uns a chamavam de Maria-Louca.

Ofereceu música pra alguém no parque ou na quermesse? E na festa junina escalou um pau de sebo? Teve um violão? Del Vechio ou Di Giorgio? E uma harmônica? Rampazzo! Seu sanfoneiro preferido era Sivuca? Mario Zan? Carlinhos Mafazolli? Ucho Gaeta, a Adelaide Chiozo, ou o Mario Genari Filho? E no cavaquinho, conheceu Valdir Azevedo ou Jacó do Bandolim?

O tempo passou, a saudade chegou! São doces lembranças, quebra-queijo, machadinho e as guloseimas do “Meleca”. Dos cigarrinhos de chocolate, do Toddy, Vic Maltema, Ovo Maltine e Arrozina. Na cozinha óleo Lino, Delícia ou Salada. Na costura a máquina Elgin, Vigoreli, ou Singer. A linha corrente, que também cortava a polenta de domingo, feita com Fubá Mimoso.

Para clarear as roupas brancas o alvejante com nome de galã de filme americano: Anil Colmann! Engomar as camisas Goma Pox. Brilho no alumínio Cito Pox. Sabão em pó? Rinso! Sabão em pedra Campeiro, Cristal, Solevante, Moreninha, Platino ou Vencedor. Usava colorau, Flit, Espiriteira, Detefon e Neocid para os insetos chatos. A mãe abanava fogão a lenha com tampa de panela? Ela moia toucinho para fazer banha, ou já utilizava a gordura de coco Brasil? Ceras Dominó, Parquetina, Fidalga. Passava escovão no assoalho, e usava ferro a carvão. E o congólio? O dicionário não traz.

Usou pulseirinha de cobre para reduzir a pressão. Lembra do Alvarenga, e Ranchinho? Jararaca e Ratinho? Os Titulares do Ritmo, Quatro Ases e Um Coringa, Bando da Lua, dupla Ouro e Prata, Wilma Bentivegna, Irmãs Galvão, Bob Nelson, Cascatinha e Inhana, Zé Fidelis, Pagano Sobrinho, Nho Totico, Nhá Barbina, Ivon Cury, Ciro Monteiro, Caco Velho, Nora Ney, Agostinho dos Santos, Altemar Dutra, João Dias, Mazzaropi, Francisco Alves, Fuzarca e Torresmo, Pimentinha e Arrelia, Piolim, Carequinha, Vicente Leporace, Enzo de Almeida Passos, Morais Sarmento, Henrique Lobo, Blota Junior, Sonia Ribeiro, Randal Juliano, Jota Sivestre, Regional do Rago, e do Zimbo Trio?

Lembra do Biriba, do tênis de mesa, e o pessoal do basquetebol, do bola ao cesto, Angelim, Sucar, Mosquito, Amaury Passos, Peninha, Pecente, Jatir, Algodão, Mindáugas, Vitor, Wlamir Marques, Ubiratan, do Rosa Branca e das vedetes.

Virginia Lane, Carmem Verônica, Luz Del Fuego, Mara Rubia, Sonia Mamede, Renata Fronzi e Marly Marley eram as preferidas. Lembro de quase tudo.

Recordo de tudo o que passei, dos primeiros tempos nos bairros em que nasci e me criei: o Brás e a Mooca, que representam muito para mim. Foi onde nasci, cresci, passei minha infância, adolescência e juventude, fiz muitos amigos e muitas saudades...

sexta-feira, 4 de março de 2011

A massacrante felicidade dos outros

A massacrante felicidade dos outros

Martha Medeiros

Ao amadurecer, descobrimos que a grama do vizinho não é mais verde coisíssima nenhuma..
Estamos todos no mesmo barco.
Há no ar um certo queixume sem razões muito claras.
Converso com mulheres que estão entre os 40 e 50 anos, todas com profissão, marido, filhos, saúde, e ainda assim elas trazem dentro delas um não-sei-o-quê perturbador, algo que as incomoda, mesmo estando tudo bem. De onde vem isso?
Anos atrás, a cantora Marina Lima compôs com o seu irmão, o poeta Antonio
Cícero, uma música que dizia:
"Eu espero/ acontecimentos/ só que quando anoitece/ é festa no outro apartamento".
Passei minha adolescência com esta sensação: a de que algo muito animado estava acontecendo em algum lugar para o qual eu não tinha convite.
É uma das características da juventude:
considerar-se deslocado e impedido de ser feliz como os outros são - ou
aparentam ser.
Só que chega uma hora em que é preciso deixar de ficar tão ligada na grama do vizinho.
As festas em outros apartamentos são fruto da nossa imaginação, que é
infectada por falsos holofotes, falsos sorrisos e falsas notícias.
Os notáveis alardeiam muito suas vitórias, mas falam pouco das suas angústias, revelam pouco suas aflições,                                 não dão bandeira das suas fraquezas, então fica parecendo que todos estão comemorando grandes paixões e fortunas, quando na verdade a festa lá fora     não está tão animada assim.
Ao amadurecer, descobrimos que a grama do vizinho não é mais verde
coisíssima nenhuma.
Estamos todos no mesmo barco, com motivos pra dançar
pela sala e também motivos pra se refugiar no escuro, alternadamente.
Sóque os motivos pra se refugiar no escuro raramente são divulgados.
Pra consumo externo, todos são belos, sexy’s, lúcidos, íntegros, ricos, sedutores.
 "Nunca conheci quem tivesse levado porrada; todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo".
Fernando Pessoa também já se sentiu abafado pela perfeição alheia, e olha que na época em que ele escreveu estes versos não havia esta overdose de revistas que há hoje, vendendo um mundo de faz-de-conta..
Nesta era de exaltação de celebridades - reais e inventadas - fica difícil
mesmo achar que a vida da gente tem graça.
Mas tem.  Paz interior, amigos leais, nossas músicas, livros, fantasias, desilusões e recomeços, tudo isso vale ser incluído na nossa biografia.
Ou será que é tão divertido passar dois dias na Ilha de Caras fotografando junto a todos os produtos dos patrocinadores?
Compensa passar a vida comendo alface para ter o corpo que a profissão de modelo exige?
Será tão gratificante ter um paparazzo na sua cola cada vez que você sai de casa?

Estarão mesmo todos realizando ummilhão de coisas interessantes enquanto só você está sentada no sofá pintando as unhas do pé?...
Favor não confundir uma vida sensacional com uma vida sensacionalista.
As melhores festas acontecem dentro do nosso próprio apartamento.

Felecidade realista

Felecidade realista
Mário Quintana

A princípio bastaria ter saúde, dinheiro e amor, o que já é um pacote louvável, mas nossos desejos são ainda mais complexos.
A princípio bastaria ter saúde, dinheiro e amor, o que já é um pacote louvável, mas nossos desejos são ainda mais complexos.
Não basta que a gente esteja sem febre: queremos, além de saúde, ser magérrimos, sarados, irresistíveis.
Dinheiro? Não basta termos para pagar o aluguel, a comida e o cinema: queremos a piscina olímpica e uma temporada num spa cinco estrelas.

Dinheiro? Não basta termos para pagar o aluguel, a comida e o cinema: queremos a piscina olímpica e uma temporada num spa cinco estrelas.

E quanto ao amor? Ah, o amor... não basta termos alguém com quem podemos conversar, dividir uma pizza e fazer sexo de vez em quando. Isso é pensar pequeno: queremos AMOR, todinho maiúsculo.
Queremos estar visceralmente apaixonados, queremos ser surpreendidos por declarações e presentes inesperados, queremos jantar a luz de velas de segunda a domingo, queremos sexo selvagem e diário, queremos ser felizes assim e não de outro jeito. É o que dá ver tanta televisão.
Simplesmente esquecemos de tentar ser felizes de uma forma mais realista. Ter um parceiro constante pode ou não, ser sinônimo de felicidade. Você pode ser feliz solteiro, feliz com uns romances ocasionais, feliz com um parceiro, feliz sem nenhum.
Não existe amor minúsculo, principalmente quando se trata de amor-próprio.
Dinheiro é uma benção. Quem tem, precisa aproveitá-lo, gastá-lo, usufruí-lo.
Não perder tempo juntando, juntando, juntando. Apenas o suficiente para se sentir seguro, mas não aprisionado. E se a gente tem pouco, é com este pouco que vai tentar segurar a onda, buscando coisas que saiam de graça, como um pouco de humor, um pouco de fé e um pouco de criatividade.
Ser feliz de uma forma realista é fazer o possível e aceitar o improvável. Fazer exercícios sem almejar passarelas, trabalhar sem almejar o estrelato, amar sem almejar o eterno.
Olhe para o relógio: hora de acordar É importante pensar-se ao extremo, buscar lá dentro o que nos mobiliza, instiga e conduz, mas sem exigir-se desumanamente.
A vida não é um jogo onde só quem testa seus limites é que leva o prêmio. Não sejamos vítimas ingênuas desta tal competitividade.
Se a meta está alta demais, reduza-a. Se você não está de acordo com as regras, demita-se. Invente seu próprio jogo.
Faça o que for necessário para ser feliz. Mas não se esqueça que a felicidade é um sentimento simples, você pode encontrá-la e deixá-la ir embora por não perceber sua simplicidade.
Ela transmite paz e não sentimentos fortes, que nos atormenta e provoca inquietude no nosso coração. Isso pode ser alegria, paixão, entusiasmo, mas não felicidade.