quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Direito legal

Direito legal

Maria, onde está o meu aparelho de barbear?
Maria, que estava lavando alface, retrucou sem nem ao menos se voltar:
No escritório tem uma Maria pra te dizer onde estão as coisas que você não enxerga?
Luiz saiu da cozinha  pisando duro. Era no que tinha se transformado o casamento. Uma coisa morna, viscosa.
A caminho do trabalho Liz lembrou-se de seu tio Inácio. O tio falava de um modo estranho, enigmático,diferente das demais pessoas.
Quando Luiz e Maria estavam namorando e, como todos os namorados, trocavam juras de felicidade e amor eternos, tio Inácio lhes dissera:
Filhos, não façam promessas. Promessas não deveriam ser feitas jamais. Não somos donos do amanhã para saber se poderemos cumpri-las. E mais:ninguém pode ser responsável por outra felicidade que não seja a sua própria.
Luiz tinha achado a conversa do tio bastante estranha.
Lembrou-se de outras coisas que o tio dizia:
Você só será um ser humano completo quando fizer a si mesmo a pergunta certa.
Que pergunta é essa, tio?
Você saberá.
Agora Luiz estava com mais de trinta anos, não encontrara ainda a tal pergunta, mas fazia-se outras perguntas. Por que sua mãe tinha se casado com seu pai?
A mãe era uma mulher dócil e submissa. O pai, um brutamontes que a espancava. Menino ainda, horroziva-se com a atitude do pai e não entendia a da mãe.. Um dia, as chegar da escola ouviu a conversa da mãe com a vizinha:
—Por que você não deixa esse homem?
—Como!?Não posso deixar o homem que é o pai do meu filho!  Casamento é para toda a vida. O que Deus uniu o homem não pode separar.era esse o modo de pensar da mãe. Parecia ter na cabeça diversas caixinhas repletas de chavões, dentre os quais ela escolhia algum que se adequasse à situação.
Voltando do trabalho, pôs-se a analisar o seu casamento, que ao longo do tempo se transformara numa coisa informe e sem o menor vislumbre de alegria ou felicidade. Não sabia que atitude tomar e duvidava que sua esposa soubesse.
Ao chegar em casa esperava-o uma surpresa: Uma prima da mulher que perdera os pais, tinha vindo morar com eles.A prime era desaforadamente bonita.Luiz tentou resistir, mas para aumentar o seu tormento, a prima se insinuava.
Maria pegou os dois na cama. Depois de ser inquirida pelo advogado, dirigiu-se ao juiz e explicou com toda a calma:
—Meritíssimo, Ele era meu marido. Ela era minha prima. Pessoas minhas. E eu tinha todo o direito de matá-las.

 Olga


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