sábado, 19 de fevereiro de 2011

Romance reduzido

Romance reduzido

A rua se estendia à sua frente até desembocar numa pracinha bem cuidada como o são todas as pracinhas das pequenas cidades.do interior.Notou a loja de perfumes à sua direita. Lembrou-se de que passara em frente no dia anterior. Mas, no dia anterior não a
Bonita vendedora não estava à porta. Teria notado.. Morena, cabelos curtos e encaracolados, rosto redondo, grandes olhas escuros e boca carnuda, Era uma jovem miúda e de pernas bem torneadas. Rodolfo notou tudo isso num relancear de olhos. Pensou em lhe dirigir a palavra, mas tinha um problema a resolver: Fora para aquela cidade à procura de um tio, irmão da mãe, crendo que ess tio o receberia em sua casa durante os anos de faculdade. Tudo dera errado. O tio praticamente o escorraçou: ”Então quer dizer que a desmiolada da sua mãe achou que eu receberia em minha casa o seu filho bastardo?”
No momento em que notou a presença  vendedora estava descendo a rua na esperança de encontrar uma república de estudantes ou uma pensão onde pudesse se abrigar.. Desalentado por não ter encontrado nada, voltava sobre seus passos. A vendedora continuava à porta. Cumprimentou-a:
Boa tarde, senhorita!
Boa tarde! A jovem tinha o sotaque arrastado de quem vive na roça. Você é forasteiro, não?
Como sabe?
É o seu jeito: diferente do pessoal daqui.
Vim para estudar na cidade vizinha e estou à procura de um lugar para morar. Que não seja caro.
Pensei em ficar na casa de um tio que mora aqui, mas ele não permitiu.
aposto que sei quem é o seu tio. Deve ser o “seo” Josias. Velho intragável. Não se dá com ninguém, parece que tem o rei na barriga.
Mas acho que posso te ajudar. Minha mãe aluga quartos. Passe por aqui no final da tarde.
Recebeu-os uma senhora baixinha, um pouco gorda, afável e com cara de mãe.
A pensão era como todas as outras: horário para entrar à noite e macarronada com frango assado e maionese de batas aos domingos.. Na semana, arroz, feijão, salada e alguma carne.
Rosinha esse era o nome da vendedora de perfumessaia cedo para o trabalho. Rodolfo, que também saia cedo para a faculdade, quase não a via..
Rosinha tinha um noivo, caixeiro viajante que a visitava nos finais de semana. O casamento estava marcado para dali a seis meses. A família o tinha em alta conta:”Respeitador”, dizia a mãe. “Trabalhador” dizia o pai. Conheciam-se desde crianças, tinham freqüentado a escola primária juntos. Ele, depois de adulto fora morar em outra cidade e ninguém sabia ao certo como vivia. Quando aparecia aos domingos sempre alegava falta de tempo. E muito trabalho. E assim ia passando o tempo até que o pai dela o encostou na parede. Aí marcaram a data.
Num belo domingo o noivo não apareceu. Passou a hora do almoço, passou a hora do lanche e nada do noivo aparecer.. Rosinha pôs-se a chorar desesperadamente. A Rodolfo pareceu que o choro era desmedido. A jovem nunca lhe parecera muito apaixonada pelo noivo. Parecia-lhe que era mais pressão da família.
A mãe chamou Rosinha para conversar. Bem, o caixeirinho não era assim tão respeitador quanto a mãe imaginava e Rosinha não era tão inocente quanto o pai gostaria. Grávida. E em uma cidade pequena.
Rodolfo havia perdido o pai aos dez anos. Três meses atrás morrera-lhe a mãe. Não tinha nenhum outro parente.
Sim. Porque não? Afinal, o que é que teria a perder?


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